terça-feira, 13 de novembro de 2012

Mestre Bobó - o artesão do distrito do França




O senhor José Baltazar dos Reis, lavrador, 78 anos (156 - contando dia e noite, segundo ele), casado com dona Dalvina Soares de Oliveira. O Criador dos bonecos e a criadora das roupas. Nascido na Fazenda Soem e criado na roça, foi trabalhador rural até se aposentar. Eis que nasce o criador - o mestre Bobó. Seu primeiro boneco foi inspirado em um policial de certa cidade. E depois tantos outros na milícia do cangaço e nos cangaceiros resistentes às volantes.


Mestre Bobó, um homem simples, pacato, quase sem estudo, mas sensível à cultura popular; sua arte. Fez da vida um exemplo de superação através dela. Fez da arte, um instrumento da saudade e do tempo da infância; quando queria e não podia ter. Quantas promessas e somente promessas. Quantas latas na cabeça e quantas vezes a mesma ladainha de que a água um dia, chegaria pra todo sertanejo.
E enquanto a política da seca reinou sobre o sertão de Piritiba, ele retratou o sofrimento de quem na cabeça levava a lata d’água e no coração à fragilidade diante da promessa por um chafariz jorrando a água prometida.


 Assim penou seu povo e assim ele retratou tal sofrimento. Mestre Bobó e sua aguadeira com a lata na cabeça, seus carros de bois e aradores, retratos de sua vida na fazenda. O mesmo mestre do parque infantil, seu sonho quando criança e o mesmo sonho de tantas outras crianças.


E assim prosseguiu mestre Bobó com as bandas e fanfarras, o carrossel, a roda gigante, os tocadores de tambores e a banda de pífanos. Mulheres, marinheiros, cangaceiros, soldados e a saudade no coração.

E então é possível acreditar que em Piritiba tem cultura e tem seus mestres. E o que é preciso pesquisar e resgatar o que há de melhor no patrimônio material e imaterial. A diversidade da cultura vai além do São João. É preciso incentivo e apoio nas manifestações culturais desse povo. O reisado, a chula, o samba de roda e o bumba meu boi fazem parte desse acervo, dessa diversidade cultural do município.
É preciso valorizar as festas populares de cada povoado ou distrito identificando e resgatando seus mestres. Mestre como seu Bobó entre tantos outros artesãos de Piritiba. E acreditar que: “o artista modela, cria, funde o seu, o nosso universo através de formas e cores. As formas são as mais variadas e as cores, aquelas componentes do arco-íris  e mais tantas dele resultante, que é impossível mensurá-las. Enfim, o artista trabalha em consonância com o universo que muitas vezes é o seu mundo  exógeno e endógeno.EIS A ARTE, EIS O ARTISTA!”

A arte popular é o resultado de uma vivência da escola da vida, que busca a vida na escola. A escola de um povo que não pode ser esquecida porque um povo sem cultura, é um povo sem identidade. A argila, a madeira, a palha, o bambu e a “talisca do licuri”, entre tantas outras matérias primas existentes em nosso município nas mãos de um artista ou artesão tornam-se o belo que  faz da arte a mais sublime das maravilhas de nossa terra.


Arte popular é, portanto a expressão maior de um povo em busca de sua própria identidade com o mundo que está  em volta de si. 


Assim é o Mestre Bobó, um homem simples e humilde que faz da arte um instrumento de superação mesmo com a falta de incentivo dos órgãos públicos responsáveis pela cultura do município, sendo capaz de transpor todo e qualquer descaso.
Quando passar pelo França, distrito de Piritiba, conheça mestre Bobó e seu mundo mágico do sertão baiano na “performance” de seus bonecos, representando um momento histórico de nossa cultura. Na maneira mais singela de transportar os segredos e os sentimentos de quem levava a lata d’água na cabeça, esperando por mais um dia a esperança de abrir uma torneira e ver a água jorrar por entre as mãos sertanejas. Os bonecos retratam muito mais que os olhos possam ver, retratam a sensibilidade de um homem que nasceu iluminado para criar além do que os olhos possam enxergar. É preciso ver com o coração.

Nenhum comentário:

Postar um comentário