O senhor José Baltazar dos Reis, lavrador,
78 anos (156 - contando dia e noite, segundo ele), casado com dona Dalvina
Soares de Oliveira. O Criador dos bonecos e a criadora das roupas. Nascido na Fazenda
Soem e criado na roça, foi trabalhador rural até se aposentar. Eis que nasce o criador
- o mestre Bobó. Seu primeiro boneco foi inspirado em
um policial de certa cidade. E depois tantos outros na milícia do cangaço e nos
cangaceiros resistentes às volantes.
Mestre Bobó, um homem simples,
pacato, quase sem estudo, mas sensível à cultura popular; sua arte. Fez da vida
um exemplo de superação através dela. Fez da arte, um instrumento da saudade e
do tempo da infância; quando queria e não podia ter. Quantas promessas e
somente promessas. Quantas latas na cabeça e quantas vezes a mesma ladainha de que
a água um dia, chegaria pra todo sertanejo.
E enquanto a política da seca
reinou sobre o sertão de Piritiba, ele retratou o sofrimento de quem na cabeça
levava a lata d’água e no coração à fragilidade diante da promessa por um
chafariz jorrando a água prometida.
Assim penou seu povo e assim ele
retratou tal sofrimento. Mestre Bobó e sua aguadeira com a lata na cabeça, seus
carros de bois e aradores, retratos de sua vida na fazenda. O mesmo mestre do
parque infantil, seu sonho quando criança e o mesmo sonho de tantas outras
crianças.
E assim prosseguiu mestre Bobó com
as bandas e fanfarras, o carrossel, a roda gigante, os tocadores de tambores e a
banda de pífanos. Mulheres, marinheiros, cangaceiros, soldados e a saudade no
coração.
E então é possível acreditar que
em Piritiba tem cultura e tem seus mestres. E o que é preciso pesquisar e
resgatar o que há de melhor no patrimônio material e imaterial. A diversidade
da cultura vai além do São João. É preciso incentivo e apoio nas manifestações
culturais desse povo. O reisado, a chula, o samba de roda e o bumba meu boi
fazem parte desse acervo, dessa diversidade cultural do município.
É preciso valorizar as festas
populares de cada povoado ou distrito identificando e resgatando seus mestres.
Mestre como seu Bobó entre tantos outros artesãos de Piritiba. E acreditar que:
“o artista modela, cria, funde o seu, o nosso universo através de formas e
cores. As formas são as mais variadas e as cores, aquelas componentes do
arco-íris e mais tantas dele resultante,
que é impossível mensurá-las. Enfim, o artista trabalha em consonância com o
universo que muitas vezes é o seu mundo
exógeno e endógeno.EIS A ARTE, EIS O ARTISTA!”
A arte popular é o resultado de
uma vivência da escola da vida, que busca a vida na escola. A escola de um povo
que não pode ser esquecida porque um povo sem cultura, é um povo sem identidade.
A argila, a madeira, a palha, o bambu e a “talisca do licuri”, entre tantas
outras matérias primas existentes em nosso município nas mãos de um artista ou
artesão tornam-se o belo que faz da arte
a mais sublime das maravilhas de nossa terra.
Arte popular é, portanto a expressão
maior de um povo em busca de sua própria identidade com o mundo que está em volta de si.
Assim é o Mestre Bobó, um homem
simples e humilde que faz da arte um instrumento de superação mesmo com a falta
de incentivo dos órgãos públicos responsáveis pela cultura do município, sendo
capaz de transpor todo e qualquer descaso.
Quando passar pelo França,
distrito de Piritiba, conheça mestre Bobó e seu mundo mágico do sertão baiano
na “performance” de seus bonecos, representando um momento histórico de nossa
cultura. Na maneira mais singela de transportar os segredos e os sentimentos de
quem levava a lata d’água na cabeça, esperando por mais um dia a esperança de
abrir uma torneira e ver a água jorrar por entre as mãos sertanejas. Os bonecos
retratam muito mais que os olhos possam ver, retratam a sensibilidade de um
homem que nasceu iluminado para criar além do que os olhos possam enxergar. É
preciso ver com o coração.
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