quinta-feira, 7 de março de 2013

MÁRIO GUSMÃO - O ANJO NEGRO DA BAHIA



                 MÁRIO GUSMÃO                          
(Cachoeira, BA, 20/01/1928 - Salvador, BA, 20/11/1996)



Ator, dançarino e coreógrafo, Mário Gusmão nasceu em Cachoeira, no Estado da Bahia, em 20 de janeiro de 1928.


Funcionário por 23 anos da Penitenciária Lemos Brito, seu espírito artístico o levou à Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia, onde se diplomou em dezembro de 1960. A partir de então, dedicou-se inteiramente à cultura.




Nos anos 50 ele teve a “ousadia”, diante do racismo da época, de se matricular em um teste para a Escola de Teatro da UFBA, dirigido por Eros Martim Gonçalves. No teste de aptidão, além de representar, o então candidato dançava. Resultado: foi aprovado com nove notas 10 e uma nota 9, ganhando méritos imediatos para ingressar já no terceiro ano da Escola de Dança.


Formado pela segunda turma da Escola de Teatro da UFBA foi o primeiro negro formado por essa instituição.


Logo, Mário Gusmão partiu para representar no teatro e, dos palcos, pulou para o cinema e, depois, para a televisão.


Seu primeiro filme para o cinema foi "O Caipora", de Oscar Santana, trabalhando depois em "O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro" e "Idade da Terra", ambos de Glauber Rocha, "Palafitas", "Bahia Fantástica", "Pindorama", "Rebelião dos Brutos" (filme italiano), "Vai à Luta", "Anjo Negro" (onde foi o principal personagem), "Madame Satã", "Dona Flor e seus Dois Maridos", "Jubiabá "(co-produção franco-brasileira), dentre outros. 


(O caipora)

 (Dona Flor e seus dois maridos)

Dos dezesseis filmes que fez, foi elogiado por diretores como Arnaldo Jabor, pelo antológico "Pindorama", premiado no Festival de Cannes. Na lista dos ilustres que costumava escalar Gusmão para seu elenco, estão Walter Lima Júnior, em "Chico Rei", Nélson Pereira dos Santos, em "Jubiabá".


Conta-se que Gusmão ganhou o codinome de “o favorito de Glauber Rocha”, que chegou a disputá-lo entre outros cineastas baianos. O ator tornou-se um dos nomes de destaque do movimento do Cinema Novo.


 (O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro)


No teatro, a partir de 1958, a participação de Mário Gusmão foi marcante, com a montagem de peças de diversos autores contemporâneos ou clássicos, na Escola de Teatro da UFBA. Fez "Almanjarra", de Arthur Azevedo, com direção de Martins Gonçalves; "Graça e Desgraça na Casa do Engole Cobra", "Cachorro Dorme nas Cinzas" e "O Moço Bom e Obediente", de Francisco Pereira da Silva, com direção de Gianni Ratto.


Em 1959, atuou no "Auto da Compadecida", de Ariano Suassuna, e na "Ópera dos Três Tostões", de Brecht, ambos com a direção de Martins Gonçalves.


Em 1962, ao lado de Antônio Pitanga, fez "Chapetuba Futebol Clube", de Oduvaldo Vianna Filho.


A partir de 1964, com a montagem de "Eles Não Usam Black Tie", de Guarnieri, com direção de João Augusto, Mário Gusmão agitou o Teatro Vila Velha. Ele se entregava totalmente aos seus personagens.


Gusmão atuou, ainda na década de 60, em montagens de peças de Gil Vicente (Estórias de Gil Vicente), Sartre (Huis Clos), Strindberg (O Pelicano), todos sob a direção de João Augusto.


Na década de 70, fez "A Ilha do Tesouro", de João Augusto, com direção de Manoel Lopes Pontes e muitos outros sucessos como "A História de Tobias" e "Saraa, e A Prostituta Respeitosa", "Eles Não Usam Black-Ti", "O Noviço", "Chico Rei", "O Banquete dos Mendigos", "Stopem-stopem", "Auto da Compadecida" e "A Ilha do Tesouro". Ganhou prêmios de melhor ator.


Ao todo, Mário Gusmão atuou em vinte e três peças.


Na televisão, participou de dez novelas, sendo a primeira "Maria, Maria". Depois, fez "A Vida de Antônio Conselheiro", "Dona Beija" (sucesso da Rede Manchete nos anos 80), "Tenda dos Milagres", "O Pagador de Promessas" e "Teresa Batista". 


 (Com Jurema pena)

Atuou em muitos espetáculos musicais, compondo a maioria das músicas. Também escrevia poesias.


Gusmão foi uma espécie de ícone do movimento negro, embora sempre extra-oficialmente.


Tido como um dos fundadores do Olodum, ele esteve nos principais grupos musicais baianos, dentre eles o Ilê Aiyê e o Muzenza.


Muitos antes do movimento negro, como atividade reconhecida e discutida, acontecer, Mário Gusmão já lutava por esses direitos na Bahia. Ele foi fundador de quase todos os blocos afros existentes em Salvador. Participou de todas as iniciativas de conscientização do problema do negro no Brasil, fazendo pesquisas sobre a cultura afro-brasileira, como a que realizou na África, após participar do I Festival Internacional de Arte e Cultura Negra, quando percorreu durante oito meses a Nigéria, Senegal, Costa do Marfim, Angola e Daomé.

Em novembro de 1984, a Câmara dos Vereadores lhe conferiu o título de Cidadão de Salvador.


 (Mário Gusmão - O Anjo Negro da Bahia)


Alto, leve, solto, magro, o Príncipe, como era chamado por Pierre Verger, dedicou um trabalho de conscientização do problema do negro no Brasil através da arte. Quando Verger conheceu Mário, ficou surpreso de como um negro que tanto se misturava com a cultura branca, tendo inclusive passado por uma Universidade, conseguiu manter o porte de um negro da África mais distante. “Está nas raízes”, disse Mário. “Sou neto de uma das fundadoras da Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte criada há 160 anos e que muito antes de acontecer a libertação já trabalhava (com ouro) para conseguir alforria para os negros escravos”, informou em 1984.


Em Ilhéus, atuou na área de educação e foi professor particular de inglês.


No dia 20 de novembro de 1996 - dia nacional da consciência negra - ele morreu, aos 68 anos, no Hospital Português, onde estava internado, em consequência de um câncer generalizado.



Fonte: Blog do Gutemberg


O SANTO GUERREIRO CONTRA O DRAGÃO DA MALDADE
                                                           Jeferson Bacelar


Mário Gusmão foi o maior ator negro contemporâneo da Bahia. Participou de dezenas de peças de teatro, fez dezesseis filmes, participou de novelas e seriados na televisão brasileira, além de inúmeros espetáculos de dança, tornando-se, como o disse Clyde Morgan, um arquétipo, um ícone para a população afro baiana. Sem jamais haver pertencido a uma organização negra, sem qualquer retórica militante, tornou-se um personagem mitificado por todos aqueles que lutam pela igualdade racial na Bahia. Falo de Bahia, porque embora tenha tido oportunidades e até mesmo trabalhado no Sudeste, a sua presença e atuação mais constante foram marcantemente no território baiano...
  ...Após um afastamento nosso por vários anos, foi uma alegria para mim reencontrá-lo para a realização das entrevistas, mas tive um choque: desempregado, vivendo de "bicos". Muito deprimido. Nas oito entrevistas, durante os meses de agosto e setembro, conversamos muito, e ele revelava-me que a sua maior agonia era depender do favor. Queria sua aposentadoria, legal e legítima, nem favores, nem mais homenagens  - já as tinha todas era de respeito. Morreu sem consegui-lo, no dia 20 de novembro de 1996, data do aniversário da morte de Zumbi dos Palmares.

Obs. O texto completo relatando tudo sobre Mário Gusmão.
 http://www.afroasia.ufba.br/pdf/afroasia_n19_20_p257.pdf

                        



Nenhum comentário:

Postar um comentário