MÁRIO GUSMÃO
(Cachoeira, BA, 20/01/1928 - Salvador, BA, 20/11/1996)
Ator, dançarino e coreógrafo, Mário Gusmão nasceu em
Cachoeira, no Estado da Bahia, em 20 de janeiro de 1928.
Funcionário por 23 anos da Penitenciária Lemos Brito, seu
espírito artístico o levou à Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia,
onde se diplomou em dezembro de 1960. A partir de então, dedicou-se
inteiramente à cultura.
Nos anos 50 ele teve a “ousadia”, diante do racismo da
época, de se matricular em um teste para a Escola de Teatro da UFBA, dirigido
por Eros Martim Gonçalves. No teste de aptidão, além de representar, o então
candidato dançava. Resultado: foi aprovado com nove notas 10 e uma nota 9,
ganhando méritos imediatos para ingressar já no terceiro ano da Escola de
Dança.
Formado pela segunda turma da Escola de Teatro da UFBA foi o
primeiro negro formado por essa instituição.
Logo, Mário Gusmão partiu para representar no teatro e, dos
palcos, pulou para o cinema e, depois, para a televisão.
Seu primeiro filme para o cinema foi "O Caipora",
de Oscar Santana, trabalhando depois em "O Dragão da Maldade Contra o
Santo Guerreiro" e "Idade da Terra", ambos de Glauber Rocha,
"Palafitas", "Bahia Fantástica", "Pindorama",
"Rebelião dos Brutos" (filme italiano), "Vai à Luta",
"Anjo Negro" (onde foi o principal personagem), "Madame
Satã", "Dona Flor e seus Dois Maridos", "Jubiabá
"(co-produção franco-brasileira), dentre outros.
(O caipora)
(Dona Flor e seus dois maridos)
Dos dezesseis filmes que fez, foi elogiado por diretores
como Arnaldo Jabor, pelo antológico "Pindorama", premiado no Festival
de Cannes. Na lista dos ilustres que costumava escalar Gusmão para seu elenco,
estão Walter Lima Júnior, em "Chico Rei", Nélson Pereira dos Santos,
em "Jubiabá".
Conta-se que Gusmão ganhou o codinome de “o favorito de
Glauber Rocha”, que chegou a disputá-lo entre outros cineastas baianos. O ator
tornou-se um dos nomes de destaque do movimento do Cinema Novo.
(O Dragão da Maldade Contra o
Santo Guerreiro)
No teatro, a partir de 1958, a participação de Mário Gusmão
foi marcante, com a montagem de peças de diversos autores contemporâneos ou
clássicos, na Escola de Teatro da UFBA. Fez "Almanjarra", de Arthur
Azevedo, com direção de Martins Gonçalves; "Graça e Desgraça na Casa do
Engole Cobra", "Cachorro Dorme nas Cinzas" e "O Moço Bom e
Obediente", de Francisco Pereira da Silva, com direção de Gianni Ratto.
Em 1959, atuou no "Auto da Compadecida", de Ariano
Suassuna, e na "Ópera dos Três Tostões", de Brecht, ambos com a
direção de Martins Gonçalves.
Em 1962, ao lado de Antônio Pitanga, fez "Chapetuba Futebol
Clube", de Oduvaldo Vianna Filho.
A partir de 1964, com a montagem de "Eles Não Usam
Black Tie", de Guarnieri, com direção de João Augusto, Mário Gusmão agitou
o Teatro Vila Velha. Ele se entregava totalmente aos seus personagens.
Gusmão atuou, ainda na década de 60, em montagens de peças
de Gil Vicente (Estórias de Gil Vicente), Sartre (Huis Clos), Strindberg (O
Pelicano), todos sob a direção de João Augusto.
Na década de 70, fez "A Ilha do Tesouro", de João
Augusto, com direção de Manoel Lopes Pontes e muitos outros sucessos como
"A História de Tobias" e "Saraa, e A Prostituta
Respeitosa", "Eles Não Usam Black-Ti", "O Noviço",
"Chico Rei", "O Banquete dos Mendigos", "Stopem-stopem",
"Auto da Compadecida" e "A Ilha do Tesouro". Ganhou prêmios
de melhor ator.
Ao todo, Mário Gusmão atuou em vinte e três peças.
Na televisão, participou de dez novelas, sendo a primeira
"Maria, Maria". Depois, fez "A Vida de Antônio
Conselheiro", "Dona Beija" (sucesso da Rede Manchete nos anos
80), "Tenda dos Milagres", "O Pagador de Promessas" e
"Teresa Batista".
(Com Jurema pena)
Atuou em muitos espetáculos musicais, compondo a maioria das
músicas. Também escrevia poesias.
Gusmão foi uma espécie de ícone do movimento negro, embora
sempre extra-oficialmente.
Tido como um dos fundadores do Olodum, ele esteve nos
principais grupos musicais baianos, dentre eles o Ilê Aiyê e o Muzenza.
Muitos antes do movimento negro, como atividade reconhecida
e discutida, acontecer, Mário Gusmão já lutava por esses direitos na Bahia. Ele
foi fundador de quase todos os blocos afros existentes em Salvador. Participou
de todas as iniciativas de conscientização do problema do negro no Brasil,
fazendo pesquisas sobre a cultura afro-brasileira, como a que realizou na
África, após participar do I Festival Internacional de Arte e Cultura Negra,
quando percorreu durante oito meses a Nigéria, Senegal, Costa do Marfim, Angola
e Daomé.
Em novembro de 1984, a Câmara dos Vereadores lhe conferiu o
título de Cidadão de Salvador.
(Mário Gusmão - O Anjo Negro da Bahia)
Alto, leve, solto, magro, o Príncipe, como era chamado por
Pierre Verger, dedicou um trabalho de conscientização do problema do negro no
Brasil através da arte. Quando Verger conheceu Mário, ficou surpreso de como um
negro que tanto se misturava com a cultura branca, tendo inclusive passado por
uma Universidade, conseguiu manter o porte de um negro da África mais distante.
“Está nas raízes”, disse Mário. “Sou neto de uma das fundadoras da Irmandade de
Nossa Senhora da Boa Morte criada há 160 anos e que muito antes de acontecer a
libertação já trabalhava (com ouro) para conseguir alforria para os negros
escravos”, informou em 1984.
Em Ilhéus, atuou na área de educação e foi professor
particular de inglês.
No dia 20 de novembro de 1996 - dia nacional da consciência
negra - ele morreu, aos 68 anos, no Hospital Português, onde estava internado,
em consequência de um câncer generalizado.
Fonte: Blog do Gutemberg
O SANTO GUERREIRO CONTRA O DRAGÃO DA MALDADE
Jeferson Bacelar
Mário Gusmão foi o maior ator negro contemporâneo da Bahia. Participou de
dezenas de peças de teatro, fez dezesseis filmes, participou de novelas e seriados
na televisão brasileira, além de inúmeros espetáculos de dança, tornando-se, como
o disse Clyde Morgan, um arquétipo, um ícone para a população afro baiana. Sem
jamais haver pertencido a uma organização negra, sem qualquer retórica
militante, tornou-se um personagem mitificado por todos aqueles que lutam pela
igualdade racial na Bahia. Falo de Bahia, porque embora tenha tido oportunidades
e até mesmo trabalhado no Sudeste, a sua presença e atuação mais constante foram
marcantemente no território baiano...
...Após um afastamento nosso por vários anos, foi uma alegria para mim reencontrá-lo
para a realização das entrevistas, mas tive um choque: desempregado, vivendo de
"bicos". Muito deprimido. Nas oito entrevistas, durante os meses de agosto
e setembro, conversamos muito, e ele revelava-me que a sua maior agonia era
depender do favor. Queria sua aposentadoria, legal e legítima, nem favores, nem
mais homenagens - já as tinha todas era de
respeito. Morreu sem consegui-lo, no dia 20 de novembro de 1996, data do aniversário
da morte de Zumbi dos Palmares.
Obs. O texto completo relatando tudo sobre Mário Gusmão.
http://www.afroasia.ufba.br/pdf/afroasia_n19_20_p257.pdf
http://www.afroasia.ufba.br/pdf/afroasia_n19_20_p257.pdf
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